NOVAMENTE A RESPEITO DE BERGSON
Por: Meishu-Sama
Outrora, escrevi a respeito do renomado filósofo francês Henri Bergson. Como tive vontade de referir-me novamente a ele, vou fazê-lo a seguir. Isso se dá porque me perguntam várias coisas, mas poucas pessoas captam com facilidade o significado do que eu digo.
Apesar de serem assuntos de fácil compreensão, dificilmente as pessoas compreendem. Embora tenham considerável grau de instrução, como não se convencem, cito vários exemplos com explicações minuciosas e, assim, finalmente elas entendem. Nessas ocasiões, o que me vem sempre à lembrança é a filosofia de Bergson.
Analisando por que as pessoas não assimilam assuntos tão simples, posso afirmar que o motivo é o que se segue. Creio que isso se dá pelo fato de elas não vivenciarem o “eu do momento” da teoria de Bergson.
Evidentemente, elas nem devem estar cientes disso. Quando o ser humano começa a ter noção das coisas à sua volta, ouve várias coisas, e as tradições e os conhecimentos lhe são incutidos por meio dos estudos até à fase adulta. Segundo a teoria de Bergson, isso tudo se transforma em uma espécie de bloqueio da mente.
Por essa razão, mesmo ouvindo a respeito de diferentes teorias, esse bloqueio impede a entrada de outras teorias no pensamento [sonen] da pessoa. No entanto, se este estiver livre de barreiras, a teoria penetra no pensamento sem dificuldades, e a compreensão é alcançada de imediato.
É com razão que se fala sobre nos tornarmos uma folha de papel em branco. Contudo, parece que quase não existem pessoas que percebem a existência das referidas barreiras.
À vista disso, recomendo ao leitor que, a partir de agora, vivencie o “eu do momento”, o qual se refere à impressão do exato instante em que se observa ou se ouve algo. É como uma criança que não tem barreira para atrapalhar. Muitas vezes, ficamos admirados com sua resposta, ao dialogar com um adulto. Isso ocorre porque ela não tem o mínimo bloqueio.
Bergson denominou-a “Teoria da intuição”.
Em outras palavras, essa teoria significa que devemos ver as coisas tais quais elas são, sem distorções. Esta é a correta visão que complementa o “eu do momento”.
Na filosofia de Bergson, encontramos outra teoria muito interessante que diz: “Tudo muda constantemente.” Isso significa que tudo está em constante movimento, sem a mínima interrupção. Por exemplo, este ano, em algum ponto, difere do ano passado. Podemos dizer o mesmo em relação ao mundo, à sociedade, ao nosso sonen e ao ambiente em que vivemos. Sem dúvida, existe diferença entre a minha pessoa de ontem e a de cinco minutos atrás. Possui o mesmo significado a antiga expressão: “Um passo à frente é o desconhecido.” Assim, tudo muda sem a mínima pausa.
Portanto, se aplicarmos esta teoria ao ser humano, será da seguinte forma. Ao se deparar com alguma situação, é preciso que sua visão e pensamento sejam distintos dos do ano anterior. Em uma escala maior, observaremos uma completa mudança no Japão entre os períodos que antecederam e sucederam à guerra. É surpreendente sua mudança em tão curto espaço de tempo.
Entretanto, as pessoas, na sua maioria, não conseguem apreender, com exatidão, a realidade atual porque continuam bloqueadas pelo modo de agir de centenas de anos ou de pensar de dezenas de anos herdados de seus antepassados. Creio que a essas pessoas são atribuídas as denominações de “conservadoras” e “antiquadas”, por se manterem estagnadas, enquanto tudo flui, em mudança constante. Elas acabam sendo deixadas para trás e terão um destino infeliz. [...]
Em suma, significa que aos idosos devemos dirigir palavras adequadas a eles; às senhoras e às crianças, falar de modo suave e delicado; aos intelectuais, expressar-nos de forma culta e, ao povo em geral, de forma
simples. Por conseguinte, basta que conversemos com quem quer que seja de modo que as pessoas nos ouçam com prazer, compreendendo e interessando-se pelo que dizemos.
Se recomendarem a fé às pessoas com base nessa orientação, os resultados serão surpreendentemente satisfatórios.
Por Meishu-Sama - Alicerce do Paraíso, vol. 4 - trechos
Publicado em 20 de novembro de 1950